segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Totó

No dia das crianças, o filho ganhou um brinquedo que deu um trabalhão para montar, mas depois de pronto:

O menino controla tudo
Tem os jogadores nas mãos
Inicia o jogo concentrado
Dois segundos depois
É pulo, berro e gargalhada
Só fica triste quando acaba
Mas é divertido até o fim
Ufa! Encontrei uma rima para pebolim

Epopéia infantil

Dia da Criança. Na semana, ele havia ganho dois sapinhos de um colega, que os trouxera de um pesque-pague. Infelizmente, os sapinhos não sobreviveram. Então ele ficou determinado a caçar girinos no Parque Tanguá. E lá fomos nós:

Passos confiantes
Caminhada certeira
"Armada" com copo e peneira
Lá vai a criança em seu dia
Pronta para mudar o destino
Da vida de um girino
Um? Não, um monte
Tantos que não há quem conte
Quase todos ali, ao alcance das mãos
e de um pé molhado

De longe, ele viu:
Muitas outras crianças
Haviam descoberto
Aquele local sagrado
Pensa que ficou chateado?
Que nada
Mais diversão do seu lado

De perto ele viu:
Surpresa!
Junto aos girinos,
Os peixes dividiam o lago
Faziam tumulto para abocanhar
um pão a eles jogado
Um pão molhado
Um pé molhado
Dois pés molhados
Uma bunda de criança molhada

A cada golpe de peneira
Girinos para vida inteira
Mas os peixes, cadê?
Que bicharada ligeira!


Um menino maior
Levou a coragem e a peneira
Lá para a pequena cachoeira
Demorou, mas com um peixinho ele voltou
Depois mais um, maiorzinho
Os dois e os infinitos girinos
Couberam todos no copinho

O filho voltou para casa todo molhado
Papai levava o copinho e um orgulho danado
Mais que uma pescaria com peneira
Aquilo tinha sido uma verdadeira caçada

Em casa, a mamãe amada
Escutou a história contada
Umas partes achou engraçada
Mas não ficou muito emocionada
Vendo aquela bunda molhada
"Já pro banho piazada"!


Com toda a razão, o filho reclamou. Achou que tinha exagerado no tamanho do recado. "Não acaba nunca, parece um livro de mil páginas". Então, para compensar, no dia seguinte, eu fui rápido e ligeiro:

Hoje vou fazer
Uma poesia curta
Pronto
Fiz a poesia
Agora curta


O filho achou graça.

Beija-flores sem suspense

Um dia, no supermercado, ele quis comprar um recipiente para alimentar beija-flor. Depois, passamos no pet shop e ele perguntou para o dono o que era melhor para atrair o pássaro e saímos de lá com um néctar que não causa fungos (o grande perigo para o beija-flor, pois o fungo pode matá-lo). Em casa, já de noitinha, fizemos o néctar e achamos o melhor lugar para colocar o alimentador, pendurado no aro da cesta de basquete, protegido pela buganvília. Na manhã seguinte, ele esperou os beija-flores chegarem e não ficou decepcionado, contou quatro. Era o tema para a poesia do dia seguinte. Tentei fazer um pouco de suspense no texto:

Eles vieram!!!
Chegaram voando
Velocidade ultra-rápida
Corpos frágeis
Porém determinados
De onde surgem esses seres alados?
Vieram para nos deixar amedrontados?
Apenas não gostam de ser incomodados

Viajantes espaciais
Azul-esverdeados
ou
Verde-azulados
Buscam um combustível
Um precioso líquido
Lhes dá um poder incrível,
De paralisar os seres humanos
Que os olham boaquiabertos
E ficam com uma sensação de alegria
Euforia

Esses seres minúsculos
Têm o poder de ser tão rápidos
Mas conseguem parar no ar

O combustível que os alimenta
É feito em um só lugar
Em Curitiba
Perto do Parque Tanguá
É uma poção cor-de-rosa
Que eles bebem todo prosa

O Tito e a Teté já os viram
Quatro de uma vez
Que amores
São apenas
Beija-Flores


À noite, perguntei se ele, quando começou a ler, havia pensado que a poesia seria sobre outra coisa. Ele, para minha decepção, disse "que nada, pai, desde o começo já sabia que era sobre beija-flor".

Hoje não tem poesia

Um dia eu estava um pouco atrasado. Correndo e sem muita inspiração. Então me passou pela cabeça não fazer nenhum recado além de "Hoje não tem poesia", mas foi impossível. É só começar que a caneta parece que viaja sozihha:

Hoje não tem poesia
Estou muito atrasado
A vida fica vazia
Quando se está apressado

Tudo fica confuso
Não se aproveita nada
Do mundo faz mal uso
Quem passa sem deixar pegada

Corre-corre, sem prestar atenção
No que faz
No que vive
Nem poesia se faz mais não
Que falta de imaginação


Depois de ler, o filho comentou com a mãe: "ele me enganou, disse que não tinha poesia e no fim isto é uma poesia".

Brincando

Coloca mais um verde aqui e ...
Pronto!
Que sapo legal
E se tirar esse outro ali e puser este aqui
UAU!
Agora virou um papagaio
É o mais bonito dos papagaios!
Mas se tira
mexe
vira
põe
troca
procura
muda
e ...
puxa, este está difícil
Encaixa
prende
improvisa
atenção
e lá está um super-aranhão

Viu, eu gosto de brincar com o Lego

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Machucado

Um domingo, o filho brincava com uma tábua pesada que escapou da mão e caiu sobre os dedos do pé dele. Na segunda pela manhã, ele encontrou o seguinte texto:

A tábua estava quase encaixada e
de repente
PUM!!
Caiu no pé do menino

Ai, que pancada
Ai, que dor danada
Ui, até sangue saiu

Mamãe escutou lá do quintal
Papai chegou e foi todo mundo pro hospital

Andar na cadeira de rodas até que foi legal

Raio-X, curativo e faixa
Não quebrou nada, que sorte
Mas a dor era de morte

Agora é descansar o pé
Futebol, nem com o Pelé

Mais cachorros

Com pouco tempo e imaginação, os cachorros no quintal sempre são inspiração:


Quem é quem?

Tem duas bolas de pelo no quintal
Enroladas e encolhidas feito animal

Uma é marrom
Outra, bem clarinha
Quase branquinha

Quando se desenrolam, as duas fazem au-au

Tem outra, que não está no quintal
Foi pra casinha do canil
Acho que estava com frio

Xadrez

Já contei aqui que o filho pediu para frequentar as aulas de xadrez. De noite, depois de uma aula, com ele empolgado contando o que tinha aprendido, decidi que no dia seguinte escreveria sobre xadrez, e saiu o seguinte:

Já viu um chinês que joga xadrez?
O rei vira imperador
O bispo vira monge
A rainha vira imperatriz
Os peões ... São peões mesmo
E todo mundo luta kung-fu

E se um francês joga xadrez,
A torre vira a Torre Eifel.

Se for um italiano,
A torre vai ser meio inclinada
Igual a Torre de Piza

E aquele cara lá, cercado de ovelhas
Tem asas e é um ser voador
Ah, é um anjo da guarda
Dando o xeque pastor


Ele gostou porque na noite anterior estava empolgado porque havia aprendido a dar o xeque pastor

Tosse

Quando voltei de Maringá, encontrei o filho com uma baita de uma tosse:

A goela assa
Essa tosse que não passa

O pulmão arranha
Explode e dói toda a carcaça

O nariz não vence
É tanto catarro que entope

Mais que chata,
Essa tosse é xarope!

Maringá

Um dia precisei viajar a trabalho. Deixei a explicação:

Papai foi viajar
Fui para uma cidade chamada Maringá
Fica no Noroeste do Paraná
É uma cidade bonita, muitas árvores tem por lá

A viagem é curta, amanhã já voltarei
Sou empregado, me mandaram e obedecerei
Se pudesse ficar com você
Então eu seria o rei

Morango

Ao abrir a geladeira para o café da manhã, vi cinco morangos que restaram da noite anterior. A vontade grande de comê-los foi sublimada pelo seguinte texto:

Tem morango na geladeira
Quase que eu como e seria uma besteira
Tito iria querer e fazer uma choradeira
Então deixei lá, pra não causar intriga
Mas um foi parar na minha barriga


O filho leu e correu para a geladeira comer os morangos que sobraram.

Dor no pé

Um dia, sei lá por que, amanheci com uma dor no pé. Mas tudo é motivo para a poesia, principalmente quando você tem apenas 15 minutos para escrever. E ficou assim:

Hoje, amanheci com uma dor no pé
Tem um caroço no meu calcanhar
Quando fui tomar café, ele doía sem parar
Será que está me nascendo uma raiz?
E eu serei uma planta chamada Luiz?

Se uma árvore eu me tornar
Onde você irá me plantar?


O filho, todo carinhoso, respondeu: "Vou plantar você no meu coração"

Mula sem cabeça

Na escola, para a semana do folclore, as crianças estavam lendo sobre lendas. Cada um escolheu uma para pesquisar e apresentar na sala. A do filho foi sobre o "Boto Cor-de-Rosa". Sabe o que ele escreveu na pergunta qual era a função do boto? "Cuidar da natureza e namorar as mulheres". Depois que todos apresentaram, em uma votação foi escolhida a Mula-Sem-Cabeça como o assunto para a montagem de uma peça por eles mesmos que foi apresentada no teatro para toda a escola. Quando ele me contou, ainda meio desapontado porque o boto não havia sido escolhido, o texto da manhã seguinte foi sobre a mula e ficou assim:

Daquele dia
Ele não esquece

Na floresta, ele via
Uma flor que crescia

Papai falou:
"Se apresse,
Porque o dia escurece
Vamos antes que apareça
A mula sem cabeça"


O filho se surpreendeu e, apesar do texto ser bem fraquinho, decidiu levar para a escola e mostrar para os colegas e a professora. Eles também gostaram e queriam ler para o público depois da apresentação da peça. Ainda bem que mudaram de idéia.

sábado, 6 de outubro de 2007

Resfriado

Canseira, sorvete, ele ficou meio resfriado:

Um dia fiquei resfriado
Era espirro, catarro e o corpo cansado
Meu nariz era pingo para todo lado
Minha mãe me fez um chá
Tinha limão, mel e uma ervarada
Era quente, mas parecia uma limonada
De noite suei tanto
Que a cama ficou toda molhada
Mas no dia seguinte
Que resfriado que nada

Segunda-feira

Na segunda-feira, depois de um fim de semana em que ele dormiu na casa das tias, foi a aniversário e de tão cansado acabou dormindo no sofá, em frente à TV:

O fim de semana foi agitado
Na sexta, da escola foi dormir na casa das tias
Ficou até de noitão acordado
No sábado, da casa das tias direto para o aniversário
Voltou para casa tão cansado
Dormiu no sofá, todo largado

Domingo, mais aniversário
Foi ao restaurante
comer peixe
Que luxo
Depois, sorvete no Gaúcho
Tito comeu tanto
Que encheu o bucho

A chuvarada

Uma noite, depois de muitos dias de estiagem, caiu uma chuvarada:

Havia dias que não chovia
Mas na madrugada veio um temporal
Era água e mais água que caía
Alagou todo o quintal

Enquanto chovia, o Tito dormia
Um sono colossal
Nada via nem ouvia
Era uma noite normal

Lá fora o trovão rugia
Um grave grito gutural
O gramado parecia
Uma piscina do Amaral

Cirque du Soleil

No dia 19 de setembro, fui ao Cirque du Soleil. Havia feito uma pequena viagem de um dia, no dia 18, e só veria o filho no dia 20, à noite. Então, decidi escrever para ele sobre o espetáculo. Ficou assim:

O Cirque du Soleil é muito legal
Tem muita gente fantasiada
Mas não tem animal
Tem uns que deixam a platéia assustada
A gente até pensa que eles são do mal
Mas eles não são ruins, que nada
E tem muito riso e até gargalhada
Pois tudo acaba com muita palhaçada

Tem cama elástica com saltos mortais
Malabaristas, contorcionistas e trapezistas

O palhaço, lógico, é o mais engraçado
Tem um que brinca com fogo
E sai de cena bem chamuscado
Não faça isso em casa, cuidado
Ou vai acabar todo queimado

Chocolate

E para o terceiro cachorro, eis o pedido:

"Um poema sobre comida para o Chocolate"

Comer é com o Chocolate
Ele gosta de tudo
Frango, carne, ração
Até abacate

Ele come tanto que até perde a linha
A barriga dele fica gordinha

Não por fome, o danado come até a própria casinha

A boca deste cão
Nunca fica sozinha
Quando não é gostosura
Ela morde a bolinha

A razão desta fome
É conhecida
Afinal
Até o nome dele
Também é de comida


O filho gostou. No papel escreveu: "Pai, bela poesia".

Bionda

Ainda na série de exigências de poesias para cachorros, o filho pediu o seguinte:

"Um poema sobre filhos para a Bionda"

A Bionda parece ser uma boa mãe
A cada ano, 14 filhotes
Sete a cada ninhada

Está prenhe de novo
A danada
Quantos virão
Na próxima fornada?

Laika

Depois do poema para cachorros, em que disse que não me cansava de escrever sobre eles, como se fosse um desafio, o filho exigiu três poemas. Lá vão eles:

"Um poema sobre cor para a Laika":

Temos uma cadela amarela
É Laika o nome dela
O mesmo de uma astronauta
Mas nossa husky, que já foi a mais peralta
Hoje, velhinha, a visão lhe faz falta

Dizem que o cachorro cores não vê
Mas a Laika queria ter um ateliê
Corria atrás do amarelo
Cheirava o roxo do chinelo
Lambia o vermelho do metal
Pulava no verde do quintal

Quando ia na lama,
Marrom ela ficava

No entanto era de um cinza
Que ela mais gostava
A cor do Drasus
O cão que ela amava

Cachorros

Pela primeira vez, repeti um tema: os cachorros:

Quantos poemas se faz para um cachorro?
Muitos! Eu não enjôo
Palavras saem num jorro

Veja a Bionda, por exemplo,
Quando quer, corre mais que o vento

O Chocolate não perde a linha
Correndo atrás da sua bolinha

A Laika já está idosa
mas sempre foi meio dengosa

Até o Drasus, que já morreu,
Acho que foi mais bonito do que eu


O filho gostou de poesia sobre cachorro e encomendou outras três, uma para cada um dos nossos cães, com algumas exigências como vocês vão ver no próximo post.

O que é?

Leve feito brisa
Ao voar, tropeça no vento
De mais cores não precisa
E é puro movimento

Quando chove ela sofre
Coitada
Cada pingo parece ter
Uma tonelada

Incrível que a beleza
Veja só que surpresa
Para de se arrastar e parta
Do corpo de uma lagarta


É claro que ele adivinhou e ainda reclamou: "estava muito fácil".

Monstro

Um dia ele ganhou um brinquedo novo das tias. Ficou brincando com ele a noite toda e o deixou sobre a mesa. A inspiração, nesses 15 minutos disponíveis, tem de sair de qualquer lugar. Ao olhar para o novo dinossauro escrevi o seguinte:

Acordei cedo
E vi um monstro
Que andava sobre a mesa
Acho que fiquei com medo
Mas sabe o que eu fiz?
Cheguei mais perto
E vi
Uma mosca em seu nariz
Fiquei feliz
Se a mosca não sentiu medo
Era um monstro de brinquedo

Terceiro

Os recados, como já falei, começaram testando a capacidade do filho, em processo de alfabetização, ler e entender o que estava escrito. Eis o do terceiro dia:


No quintal
Jogados
Os cachorros
Dormiam
Esparramados
Despreocupados
Certos
De que
Eram
Amados


Ele logo me mostrou que eu subestimava a capacidade dele ler. No verso da folha do recado acima, ele escreveu:

Os cachorros fazem xixi
Mãe e Teté discutem o almoço
E eu, por desgraça,
Ainda estou no café da manhã


Então, ele me libertou para recados mais longos e mais próximos a poemas.